Quero mais tempo. Mais tempo para estar aqui, para viver aqui, para aproveitar. Estou na Áustria há cinco meses mas na realidade pareceram-me dois.
A Áustria é um país lindíssimo e não só pelas paisagens que tem mas também pelas pessoas no geral. É um país de certa forma fora do normal, em que as pessoas parecem frias e um pouco superficiais mas que na verdade são afáveis e até quentes. Não quentes como nós latinos mas um quente assim menos de contacto físico e mais de contacto intelectual.
Fui acolhida por uma família e por uma vila inteira e não há palavras suficientes para lhes agradecer a todos e para dizer o quanto já me ensinaram até agora não só sobre a cultura daqui mas também a nível pessoal. A minha família de acolhimento é uma super família, acolheram-me não como uma estudante de intercâmbio mas como um membro da família. Sou a 10ª estudante que recebem e por isso posso dizer que para além da minha irmã e do meu irmão em Portugal, tenho mais 10 irmãs e 1 irmão espalhados pelo mundo todo, não é incrível?
A cultura austríaca é bastante diferente da nossa: não há atrasos (quase nunca), não há peixe do bom e melhor (como dizem as senhoras da praça em Portugal) porque não há mar, não há beijinhos e abraços só porque sim, não há anos sabáticos, não há conversas acesas e num tom elevado e, mais importante, aqui não há o meu querido português, só o alemão. O alemão é uma língua difícil de aprender, sem dúvida, mas ao mesmo tempo tão interessante de entender. Cheguei aqui sem saber dizer nada e hoje falo tanto (ou mais) que em português.
Outra coisa que me apercebi aqui é que ser AFSer tem sim a ver com conhecer uma cultura nova mas principalmente tem a ver com conhecermo-nos a nós próprios e do que somos capazes de fazer sozinhos. É uma viagem a procura da nossa essência e, parecendo que não, é algo que precisamos e que certamente nunca iremos esquecer. Estar aqui é uma constante aprendizagem em relação a tudo, basta-nos receber o que nos é desconhecido com uma mente bastante aberta em vez de estereótipos.
Apesar de ser tudo muito bom neste momento aqui, as coisas nem sempre foram fáceis. Há sempre aquelas situações difíceis pelas quais não estamos à espera mas que temos que enfrentar e superar e quando o fazemos há uma força que cresce em nós inacreditável. Há sempre também, obviamente, as saudades. As saudades dos beijinhos da mãe, do colo do pai e das danças e cantorias com os manos. Há também, por incrível que pareça, as saudades do meu país, de ir à praia, de falar a minha língua, de comer a minha comida com o sabor que me é tão familiar. Estas são coisas que embora não desse o mínimo valor quando estava em Portugal, hoje fazem-me uma falta tremenda. Tudo o que para mim antes era pequenino e irritante em Portugal é hoje gigante e motivo de orgulho.
No fim de tudo, este ano não me deu só um novo país a que chamo de casa, uma nova família ou novos amigos, deu-me também um orgulho acrescido de poder dizer com o maior orgulho na voz que sou de Portugal e que falo português.
Obrigada Áustria, Obrigada Portugal, Obrigada AFS. É o melhor ano da minha vida.
Maria Saias Santos | Estudante AFS 2015/2016 | Portugal – Áustria