A afs não é apenas 3, 6, nem 10 meses. A afs é antes de irem, durante a experiência, e o depois. Pois bem, deixem-me dizer-vos: o depois não é apenas mais um ano, o depois estende-se para sempre; o depois é para a vida.
Eu encontro-me no depois, e deixem-me dizer-vos: é uma parte tão ou mais importante que as outras. Chata no início, mas tudo passa. Reflexão é a melhor palavra para descrever esta parte, em que entendemos que o mundo não mudou, quem mudou fomos nós, e isso muda tudo.
Sabem a melhor parte? Os reencontros. Poder reunir com aquele amigo mesmo especial que fizemos ou relembrar os momentos engraçados com a nossa família de acolhimento é uma sensação fantástica. Posso dizer que este ano, após voltar da experiência, já me aconteceram ambos – e é tão bom! Nunca pensei que voltasse a ver pessoas especiais tão cedo, mas felizmente aconteceu.
Gostava de contar-vos como foi ter a minha mãe de acolhimento cá, exatamente (literalmente) um ano depois de me ter despedido dela em lágrimas no campo final de despedida em Junho de 2015. Ainda me lembro das últimas palavras dela, “Não importa o que aconteça nem onde estejas, serás sempre parte da nossa família”.
Agora, depois de um ano, eu, a minha mãe e os meus avós estávamos prontos para receber a minha mãe de acolhimento, quem cuidou de mim durante a minha estadia num país estrangeiro, e que me tratou tal como um filho (infelizmente, o resto da família não pode vir mas um já é mais que suficiente para matar a saudade!). É claro, a sensação de gratidão e de divida da nossa parte é imensa e durante essa semana quisemos mostra-lhe isso.
Primeiramente, foi muito entusiasmante que as minhas duas famílias se pudessem conhecer, depois de ouvirem tanto falar sobre uma e outra vindo de mim. É uma sensação fantástica poder ter as duas no mesmo lugar ao mesmo tempo. Eu senti-me de certa forma completa, ou perto disso, porque um dos maiores desejos de um afser será sempre ter os dois mundos e as mesmas pessoas que já conheciam antes e que conheceram durante o ano afs, no mesmo lugar e ao mesmo tempo, o que será sempre, realisticamente falando, impossível. Mas voltar a ver alguém assim especial é como uma lufada de ar fresco, é como se aquele mundo entusiasmante em que estivemos no nosso país de acolhimento voltasse por breves momentos ao nosso país de origem. É como se as pessoas que conhecemos lá o trouxessem com elas para cá, porque podemos falar sobre ele outra vez e relembrar como foi, e isso foi muito bom para mim.
Outra sensação muito boa de reencontros é a oportunidade que temos de mostrar de onde vimos e de onde somos. Eu estava muito entusiasmada para mostrar à minha mãe de acolhimento muitos dos locais turísticos (e não turísticos) de que tanto lhe tinha falado, e uma das melhores maneiras de nos sentirmos turistas no nosso próprio pais é tendo alguém que nunca tenha estado em solo português! Tornamo-nos completos guias turísticos oficiais, e é uma sensação engraçada! Há coisas que ela achava muito interessantes ou visualmente bonitas que eu não entendia o porquê, mas isso também aconteceu quando lá estive e nunca tinha reparado nisso. Tentei ensinar-lhe um pouco da língua (embora não muito bem sucedida), o meu avô aproveitou a situação para beber o vinho que não bebe (porque a minha avó lhe dá nas orelhas) quando ela cá esteve (porque tem que se dar a provar do melhor vinho português!!!) e durante uma semana só comi comida típica portuguesa (ah, e os pasteis de Belém! Não descansei até que a levasse a provar um, ou dois ou três pasteis de Belém..) E claro, não podia faltar o bacalhau (desta vez foi o espiritual) no jantar do dia do jogo das meias-finais do Euro que foi de chorar a rir com a família toda a levantar-se da mesa durante a refeição para gritar, bater palmas, dançar ou celebrar a vitória!
Percebi que nada tinha mudado, mesmo depois de um ano, tudo continuou na mesma, a nossa relação, tudo. Também há traços da personalidade dela, coisas pequenas, que te vais esquecendo e que só te apercebes delas outra vez quando estás com a pessoa que foram engraçados recordar. Quando andava na rua, sentia que tinha literalmente duas mães. Eu sempre senti que tinha, durante e após a experiência, mas tê-las no mesmo lugar ao mesmo tempo é outra coisa! Sinto que este reencontro só nos aproximou ainda mais porque, como ela disse: “Agora percebo a natureza do teu sorriso genuíno”, e isso significou muito para mim. É bom quando a nossa família de acolhimento percebe de onde vimos e conhecem os nossos, e é muito bom quando os nossos conhecem quem fez parte da nossa experiência afs, porque até os reencontros acontecerem, a experiência e as “pessoas afs” são apenas histórias que contamos aos que nunca passaram por ela. Quando a minha experiência afs acabou ,“Adeus” era a única palavra que conhecia, mas o que não sabia era que o tempo me iria trazer tantos “Olá’s” de novo!” Que venham muitos, muitos mais!
Mónica Cepeda | Estudante AFS 2014/2015 | Portugal – EUA