Um ano da nossa vida é, sem dúvida, algo difícil de explicar. Quando me pedem para falar sobre o meu ano de AFS em Itália nunca sei por onde hei-de começar ou que momentos é que hei-de contar. A única coisa que eu tenho a certeza que quero transmitir às pessoas é o quanto valeu a pena a coragem de sair de Portugal, de deixar a minha família e amigos, a minha zona de conforto e a nossa língua, para me aventurar na experiência mais importante da minha vida.
Dia 5 de Setembro de 2014 entrei no avião com destino a Roma, não tinha dúvidas de que estava pronta, pronta para o campo de chegada, com afsers de todas as partes do mundo, pessoas que não se conheciam de lado nenhum mas que iam passar pelo mesmo. Foi óptimo para tirar os nervos, conhecer pessoas e, especialmente, os estudantes que iam estar na nossa zona. Na madrugada de dia 07 já estava no autocarro com destino a Turim, no Piemonte, norte de Itália. E foi aí que realmente começou.
Eu vivia com uma família com 2 filhas, uma mais nova com 14 anos e outra mais velha com 22, que só vinha a casa aos fins-de-semana, um pai e uma mãe. Foram sem dúvida quem mais me ajudou durante todo o ano e quem me fez crescer. Isto porque, viver noutra família é sem dúvida a coisa mais diferente de tudo isto! Por fora, o país pode ser completamente diferente, mas é uma questão de aparência física, é o que é e não muda, acabarei por me habituar; Mas a vida em casa é diferente, as regras mudam, muitas vezes ouvi “nãos” que não estava habituada a ouvir da minha família portuguesa, que me conhece e confia em mim; tive de começar do zero, ganhar a sua confiança e adaptar-me a eles, foi talvez dos desafios mais difíceis e melhores, que tive até hoje.
Ao princípio tudo é extraordinário, a comida é de chorar por mais, a tigela, que em Portugal, normalmente é para a sopa, lá serve para a massa, ou risoto, ou lasanha ou qualquer outro hidrato de carbono! O 2º prato é sempre mais saudável (ou menos calórico), tipo saladas, queijos, legumes salteados, carnes frias e é essencial que haja sempre presunto (cru: presunto normal ou cotto: fiambre). É impossível andar pela rua, passar por uma gelataria (que não são poucas) e não entrar pelo menos 1 vez por dia! Quando temos fome não comemos um pastel de nata, mas sim uma focaccia: quadrado de pizza!
No entanto, nem tudo é fácil, para além da nossa família e amigos, temos saudades das coisas que nunca achamos que íamos ter, temos saudades dos pormenores, das pequenas rotinas, das coisas que sempre fizemos e estivemos habituados a fazer, mas que não achamos que fosse importante despedirmo-nos. É fora que aprendemos o que é dar valor às coisas que sempre tivemos e nunca soubemos apreciar.
Aprender italiano foi das melhores coisas do meu ano, lembro-me que quando cheguei conseguia apanhar algumas coisas mas não sabia falar, muito menos conjugar verbos e que só fazia gestos com as mãos para tentar ser percebida… No fim, em Junho, fiz um exame de italiano o CILS C1, nada fácil, mas passei, e é uma coisa que fica para a vida. Foi muito mais difícil voltar a falar português do que aprender italiano e ainda hoje construo algumas frases em italiano, o que me faz dizer coisas sem sentido nenhum…
Claro que os amigos que fiz foram o mais difícil de deixar, desde italianos a amigos de todo o mundo! Estamos sempre em contacto e já tive a sorte de estar com alguns! Eu decidi escrever todos os meses, todos os dias 5 de cada mês, um texto no facebook, para ir poder explicando aos meus amigos como estava tudo a correr, o que foi uma coisa óptima, porque agora que os leio dá mesmo para ter uma noção da evolução do meu estado de espírito em cada altura. Recomendo!
Voltar à vida em Portugal é parte desta experiência, é mais difícil do que estava à espera… O tempo passa e todo o ano que passámos está apenas na nossa memória, é impossível revivê-lo e vamos acabando por voltar à normalidade da nossa vida português, que nunca volta a ser a mesma que foi antes de irmos, porque só nós é que sabemos o quanto crescemos.
Maria do Carmo Monteiro | Estudante AFS 2014/2015 | Portugal – Itália