Escrevo este testemunho com o marco dos cinco meses já atingido. Ainda tenho a outra metade para viver aqui e, no entanto, parece que já uma vida se passou.
Os Estados Unidos têm uma influência tão grande nos dias de hoje que já sabemos antecipadamente de muitas das diferenças. Já sabemos que não há turmas, que são os próprios alunos a fazer os seus horários e a escolher as suas disciplinas. Já sabemos que a escola é mais do que aulas: é clubes, desportos e todo o tipo de extracurriculares.
Já estamos mentalizados para muito, o que só torna ainda mais engraçado ver como pode ser tão diferente daquilo que estávamos preparados para experienciar. São sempre os pequenos detalhes: na escola em que estou não há uma “cantina” (temos simplesmente um espaço com mesas no meio da escola a que todos os corredores vão dar), nem há grupos diferenciados com lugares designados, e nem ninguém usa os cacifos.
E depois há as surpresas. A minha escola fornece a todos os alunos um portátil durante o ano escolar, sendo raras as aulas em que se usa um manual. O horário depende de ser um “blue day” ou um “gold day” (as cores da escola), alternando de dia em dia; há dois semestres como na universidade; nem todas as disciplinas duram o ano inteiro; e há quatro diferentes horários para almoçar, com o primeiro a ser às 9h30.
A vida americana é muito simplista, principalmente em cidades pequenas, como a minha. Tudo gira à volta da escola. Daí a importância de participar em todas as atividades extracurriculares possíveis. Esta é mesmo a única maneira de nos integrarmos na dinâmica da comunidade. Seguindo este meu conselho, juntei-me ao Clube de Robótica, ao International Club, à Math Team e à equipa de Basquetebol. Com as diferentes estações do ano, há diferentes oportunidades. E sinto-me, de facto, integrada.
A expressão “parar é morrer” só se comprovou ainda mais no meu exchange year. Quando estou sozinha, entregue à minha mente, fico nostálgica e a ruminar todas as saudades que tenho, mas quando me mantenho ocupada, nem me vem o pensamento à mente.
Não acredito que tenha sido uma coincidência que dos 50 estados, tenha vindo parar a esta escola em Farmington, algures no Maine. Os caminhos do AFS são, de facto, insondáveis…
E perdida no meio deste estado americano, no meio desta contínua floresta, acabei, na verdade, por me encontrar.
Joana R.
Estudante AFS 2019-2020 | Portugal – EUA