EFEITOS DOS PROGRAMAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO DO CAMPUS NA COMPETÊNCIA INTERCULTURAL DE ALUNOS LOCAIS: DOIS ESTUDOS DE CASO DE UNIVERSIDADES JAPONESAS PERTENCENTES AO “TOP GLOBAL UNIVERSITY PROJECT”
Ana Sofia Hofmeyr
CONTEXTO DO ESTUDO

A internacionalização do ensino superior tem ocorrido em conjunto com as dinâmicas da globalização e da mobilidade de estudantes, gerando um aumento no número de instituições universitárias que visam educar forças de trabalho capazes de competir em mercados globais. No Japão, o conceito de “global jinzai”, i.e., recursos humanos globais, tem-se tornado omnipresente na retórica do ensino superior, acentuando o papel desempenhado pelas universidades em atrair e nutrir talento nacional e internacional capaz de expandir a indústria japonesa para além das fronteiras nacionais.

No entanto, o próprio conceito de “recursos humanos globais” permanece vagamente formulado e desconectado de modelos teóricos internacionais de competência intercultural e global. Simultaneamente, propostas do governo japonês com o objetivo de atrair vastos números de alunos internacionais, continuam a aumentar a diversidade nos campus universitários no Japão, alterando o foco das estratégias de internacionalização e de desenvolvimento de recursos humanos globais de mobilidade estudantil para a internacionalização do campus.

Este estudo teve como objetivo explorar as características específicas dos recursos humanos globais no contexto do ensino superior japonês, e determinar se iniciativas de internacionalização do campus têm o potencial de promover recursos humanos competentes interculturalmente.

MÉTODOS DE PESQUISA

De modo a determinar o significado do conceito de “recursos humanos globais” e de “competência intercultural” no contexto do ensino superior japonês, foram analisados documentos políticos e promocionais relacionados com estratégias de internacionalização publicados pelo governo japonês e pelas 37 universidades pertencentes ao “Top Global University Project”. A lista de características e aptidões resultante desta análise foi depois comparada com a Pirâmide de Competência Intercultural desenvolvida por Darla Deardorff em 2006.

Para explorar o impacto positivo bem como os obstáculos dos programas de internacionalização do campus no desenvolvimento da competência intercultural, foram usados métodos mistos durante o período de um ano.

Um questionário foi distribuído a 164 estudantes no primeiro ano da universidade, metade dos quais eram participantes em programas interculturais organizados pela universidade no campus, e a outra metade dos quais constituíram o grupo de controle. Os questionários foram distribuídos no início, meio, e fim do ano letivo e, adicionalmente, entrevistas foram conduzidas com dez dos participantes após o fim do primeiro e segundo semestres para discutir os resultados do questionário.

RESULTADOS

Resultados da análise de documentos políticos e promocionais do governo e ensino superior japoneses revelaram que o conceito de “recursos humanos globais” tende a enfatizar características centrais da competência intercultural, como por exemplo a abertura à diversidade cultural e a empatia, bem como a importância da aprendizagem de línguas estrangeiras e a capacidade de resolução de problemas.  Os resultados dos questionários e das entrevistas conduzidas revelaram que a internacionalização do campus tem o potencial de desenvolver competência intercultural nos alunos sem ser necessário recorrer à mobilidade de estudantes. No entanto, esta competência intercultural foi mais desenvolvida quando os alunos participaram em programas formais, i.e., programas dirigidos pelo corpo docente ou pessoal administrativo.

A competência intercultural também foi mais desenvolvida quando os alunos se sentiam motivados para interagir com alunos de outros países, e quando tinham alguma experiência com programas de intercâmbio prévio ao ensino superior.

Por último, os resultados indicaram a existência uma tendência entre os participantes em programas interculturais a sentirem um declínio na competência intercultural ao fim de seis meses, sugerindo que programas com uma duração superior a seis meses são mais eficazes.

IMPLICAÇÕES

Os resultados deste estudo têm várias implicações para a teoria e a prática do desenvolvimento de competência intercultural. Em primeiro lugar, o conceito de competência intercultural varia consoante a cultura em que é conceptualizado e não deve, portanto, ser generalizado quando instruído ou avaliado pelas organizações. Em segundo lugar, apesar das estratégias de internacionalização serem associadas com o ensino superior, experiências de intercâmbio prévias ao ensino superior tiveram um impacto extremamente positivo no nível de desenvolvimento de competência intercultural nos estudantes universitários. Por conseguinte, o sucesso de programas no campus beneficiará da introdução de experiências interculturais em alunos do ensino básico e secundário. Por último, os resultados deste estudo indicam que é importante preparar alunos formalmente para interagir interculturalmente.

Estudantes no grupo de controle demonstraram pouco desenvolvimento ou até mesmo um desenvolvimento negativo de competência intercultural ao longo do ano letivo apesar da interação com estudantes de outros países, indicando a necessidade de suporte institucional antes, durante e após programas interculturais.