Na cabeça da nossa filha, na altura com 14 anos, começou a delinear-se uma enorme curiosidade sobre a experiência de estudar no estrangeiro, isto porque conhece jovens que já o fizeram. Aí surgiu a questão: como é que eles vão estudar para fora de Portugal? Falou-se então da Intercultura, organização que já conhecíamos do programa de intercâmbio escolar dos anos 90 “Outra escola, novos amigos”. Da questão inicial a nossa filha passou à pesquisa na Internet sobre a AFS – Intercultura Portugal e ao desejo de ir estudar para a Holanda. Aí surgiu o senão, como pais achámos que ela era muito nova, que deveria aguardar, crescer. Ela compreendeu, aceitou e começou a ver o tema noutro prisma. E se acolhêssemos um estudante durante um ano?
Aconteceu assim o embrião da nossa segunda filha Beverly.
Desenvolvemos os contactos e trâmites necessários e lá nos decidimos, entre tantos estudantes, pela Beva que se aproximava em idade da nossa filha. Foi o único critério.
O Setembro de 2013 chegou e a expectativa era grande. Guardamos na memória o flash da viagem para casa, na Beira Interior raiana, do primeiro contacto com família e amigos, da festa na aldeia, da primeira ida à escola, enfim as primeiras experiências como novo membro da família.
O processo de aculturação lá foi acontecendo ao sabor do tempo, em casa na escola, no círculo de amigos todos a acolheram e mimaram. Em Novembro a Beverly decretou que a partir dali falaríamos sempre em português. As aulas de PLNM na escola foram decisivas, bem como o apoio individual que a nossa filha lhe deu na aprendizagem do português, em especial na gramática.
A Beverly revelou-se uma estudante determinada, mas, por razões de personalidade, não aceitava com naturalidade as dificuldades que às vezes surgiam na aprendizagem da nossa língua.
Em casa, connosco família, foi sempre muito curiosa, perguntando a razão das coisas, propondo-se conhecer e experimentar coisas novas, das paisagens de montanha às do litoral, a tauromaquia, a gastronomia, o Carnaval…
Na escola adaptou-se e correspondeu a colegas e professores, mostrando especial interesse pelas actividades de Desporto Escolar e chegando a representar o Agrupamento de Escolas de Almeida nos Regionais de Atletismo.
Também, houve alguns momentos críticos, por exemplo quando adoeceu, sentimos realmente que é difícil estar longe da família, porque embora a Beverly fosse muito independente aí ficou um pouco mais frágil. De resto alguns altos e baixos de humor que são tão típicos dos adolescentes, que ora exigem condescendência, ora correcção. Para nós pais foi uma aprendizagem por antecipação, porque só agora é que a nossa filha está a passar por fase idêntica.
O último mês que esteve connosco foi muito cheio de solicitações sociais e completou os dezasseis anos aqui em casa. No fim do mês de Junho fomos levá-la a Lisboa, onde a família a esperava para uma semana de férias em Portugal. Foi difícil, mas, era assim, chegara ao fim o período de acolhimento de 10 meses.
Á distância do tempo de estadia temos a convicção de que foi uma experiência interessante, todos crescemos como pessoas e como família.
Se pudermos sintetizar esta experiência diremos que à “open mind” da Beverly nós correspondemos com “open heart”!
Agora mesmo mantemos contacto regular e esperamo-la para as Férias de Verão!
Família Magalhães | Família de Acolhimento de Beverly Huntemann
Programa AFS Alemanha-Portugal 2013/2014